A roda de conversa alusiva à 1ª Semana Municipal de Combate à Violência contra a Mulher, instituída pela Lei Municipal nº 4.987, de 1º de junho de 2021, de autoria da vereadora Kátia Regina Zummach (PSDB), ocorreu na terça-feira, 23 de novembro, no Plenarinho da ACINP. Os palestrantes do evento, a psicóloga Karin Michaelsen e o delegado da Polícia Civil de Nova Petrópolis, Fabio Peres, falaram sobre os principais tipos de violência que afetam milhares de mulheres diariamente. São elas: sexual, psicológica, física, moral e patrimonial.
VIOLÊNCIA SEXUAL E PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER
Karin focou sua apresentação, principalmente, na violência sexual e psicológica. “A violência psicológica é pouco reconhecida pelas mulheres, e a violência sexual, na maioria das vezes, não é reconhecida pelas vítimas, o que é grave. O marido obrigar sua mulher a ter relação sexual, por exemplo, é violência sexual, e muitas mulheres não entendem isso. Essas situações ocorrem constantemente. Já a violência psicológica perdura mais, pois ela deixa marcas na vida da vítima. Qualquer tipo de violência contra a mulher pode causar sua morte psicológica. A mulher pode estar vivendo, mas ela já não sente nada”, disse a psicóloga.
Ela também mostrou alguns exemplos de frases usadas pelos agressores para manipular a vítima. “Falas como ‘eu faço tudo por você’, ‘você está louca, eu não disse isso’ ou ‘ninguém vai fazer tudo o que eu faço por ti’, são utilizadas pelos agressores para que a mulher se sinta culpada, colocando ela como a errada. Outras frases como ‘mulher decente não vai nesse lugar’, ‘vai sair com essa roupa?’ e ‘não gosto daquelas tuas amigas, você não vai sair com elas’ também são usadas pelos agressores para isolar a vítima”, explica Karin.
Para a psicóloga, a educação sexual nas escolas é a solução mais eficiente para prevenir a violência psicológica, física e sexual contra as mulheres. “A educação sexual precisa estar presente desde o começo da vida escolar da criança, de acordo com cada idade. A escola tem o papel social de ensinar as crianças a pensar e refletir sobre seu corpo e o corpo do outro. Isso ajuda no desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Muitos pais acreditam que, com a educação sexual, os filhos vão aprender a ter relação sexual muito cedo, mas, não é assim. Os educadores podem ser capacitados para isso, ensinando conteúdos de acordo com cada idade. É importante falar do corpo, da saúde mental e das diferenças entre meninas e meninos. Na educação sexual, as crianças e adolescentes aprendem sobre intimidade e privacidade, ocorre é uma descoberta corporal. Além disso, as crianças aprendem sobre como higienizar as partes íntimas. Precisamos ensinar as crianças e os adolescentes a usar o corpo de maneira respeitosa, ensinando os cuidados de higiene e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis”, afirma.
LEI MARIA DA PENHA E O CICLO DE VIOLÊNCIA
O delegado Fabio Peres falou sobre a importância da Lei Maria da Penha, instituída em 7 de agosto de 2006. “O caso da Maria da Penha é emblemático porque ela foi vítima de duas tentativas de homicídio, práticas pelo próprio marido. Antes dessa lei, não existe nada na legislação referente a violência doméstica no Brasil. Com a Lei Maria da Penha, criaram-se mecanismos para coibir, prevenir e punir a violência doméstica e familiar contra a mulher. A lei de violência doméstica foi a primeira que trouxe o conceito de família. Quando falamos de violência doméstica, falamos de uma relação entre um homem e uma mulher, é qualquer relação íntima de afeto”, ressalta.
Fabio também comentou sobre os atendimentos realizados pela Polícia Civil em casos de violência contra a mulher. “Esses casos chegam no judiciário constantemente. Fazemos uma análise criteriosa, pois cada caso é um caso, eles não são iguais, não podemos compará-los. Recebemos casos muito dramáticos de violência contra a mulher na delegacia. São mulheres que nos pedem socorro, só de ouvirmos a voz da vítima ficamos muitos chocados. Às vezes é complicado provarmos alguns tipos de violência, como a sexual e a psicológica, pois elas acontecem dentro de casa e ninguém fica sabendo de nada. Por isso, o atendimento a vítima é muito importante, para ela se sentir segura e acolhida, sabendo que pode contar com a polícia”, relata o delegado.
Além disso, Fabio explicou como funciona um ciclo de violência. “A primeira fase é a da tensão, que é quando o agressor age e ameaça com palavras, demostrando ciúmes e destruindo objetos da mulher. A segunda fase é a da explosão, onde ocorre o aumento das agressões e a mulher fica com medo e ansiedade. E por último, vem a fase de mel, quando o agressor se mostrar arrependido e pede desculpas, prometendo não cometer mais violência. Mas, a realidade mostra que o ciclo começa a se repetir”, destaca.
A vereadora Kátia Regina Zummach (PSDB) destacou a importância da 1ª Semana Municipal de Violência Contra a Mulher. “Essa semana é uma forma de marcar no calendário, de forma simbólica, o combate à violência contra a mulher. Mas, sabemos que precisamos combater a violência contra a mulher todos os dias. Não podemos mais admitir viver em uma sociedade onde mulheres são inferiorizadas, agredidas, violentadas e assassinadas. A violência contra a mulher deixa marcas, não só na mulher, mas nos filhos e na família e, muitas vezes, marca gerações. Precisamos quebrar o ciclo de violência. Esse é um problema mundial, que não distingue cor, classe social ou raça. A violência contra a mulher é absurda, intolerável e injustificável. O objetivo dessa roda de conversa é refletir e contribuir para a ajudar as vítimas de violência e, sobretudo, conscientizar, pois essa luta é de todos nós”, disse.
O evento contou com a presença de, aproximadamente, 100 pessoas, entre autoridades municipais, diretores, professores e alunos das escolas de Nova Petrópolis e a comunidade em geral. Além disso, quem compareceu ao evento pode apreciar a exposição de quadros elaborados pelas crianças do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo, elaborados na oficina de arte urbana, com o tema “Tipos de violência contra a mulher”. Os colaboradores do CRAS de Nova Petrópolis também elaboram alguns quadros. O espaço também contou com a exposição itinerante “Basta de violência contra a mulher”, da Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
CRÉDITO DAS FOTOS: Jordana Kiekow | Comunicação CVNP
Fonte: Câmara de Vereadores de Nova Petrópolis